terça-feira, 26 de maio de 2009

Luciano Trigo, Neville de Almeida e debate na mostra Erotismo no Cinema

Fui checar meus emails e recebi esse texto do Luciano Trigo, tb redator de blog sobre cinema.
Achei deveras interessante e compartilho com vcs.

Leia e comente o texto completo em
Depois da exibição de seu filme A Dama do Lotação na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, na terça-feira à noite - parte do ciclo “O Erotismo no Cinema Brasileiro” - o cineasta Neville D’Almeida aproveitou o debate com a atriz Maria Lucia Dahl, o jornalista Rodrigo Fonseca e o curador da mostra, Hernani Heffner, para soltar o verbo. Contestando logo a primeira fala de Maria Lucia, que atribuiu à censura da ditadura o fim dos filmes políticos do Cinema Novo e a ascensão da pornochanchada, Neville foi enfático:

_ O Cinema Novo não foi prejudicado pela ditadura militar. Ao contrário, ele prosperou na ditadura, que financiou, através da Embrafilme, todos aqueles filmes. E, que eu saiba, nenhum cineasta foi forçado a se exilar.

Exibida numa cópia 35 mm em péssimas condições, cheia de riscos e desbotada, ainda assim A Dama do Lotação agradou bastante à platéia que lotou o auditório da Caixa. Vale lembrar que o filme, de 1978, fez cerca de 6,5 milhões de espectadores nas salas de exibição - mais que o festejado Se eu fosse você 2 faria 30 anos depois. De fato, é uma das adaptações mais felizes da obra de Nelson Rodrigues para o cinema, além de contar com a nudez de uma exuberante Sonia Braga no auge da beleza e da fama (basta ver foto acima…).

Provocada por Heffner, que perguntou se o cinema brasileiro atual não está muito recatado, Maria Lucia Dahl, que atuou em alguns filmes eróticos hoje clássicos, como Giselle, de 1982, disse que o erotismo nas telas dos anos 70 foi uma forma de expor a hipocrisia da sociedade da época:

_ As pessoas fingiam que os casamentos eram perfeitos, que todos eram felizes e fiéis. O mundo mudou, e hoje as coisas são feitas de forma mais transparente, então os filmes não têm mais nada novo a mostrar. Em termos de erotismo tudo já foi dito.

Neville voltou a discordar, aproveitando o gancho para atacar o que chamou, ironicamente, de “Cinema Mauricinho“. A expressão vem se somar a outras que criticam as nossas produções contemporâneas, como “Cinema Novinho” e “Cosmética da Fome”:

_ O cinema que triunfou no Brasil é careta, não mostra nada, é um Cinema Mauricinho, que só se preocupa em agradar o público e tentar adivinhar o seu gosto. Esta é uma pretensão ridícula. São filmes bonitinhos, mas que não dizem nada, não mostram nada. E são totalmente feitos com o dinheiro do contribuinte, ninguém mais coloca a mão no bolso! Além disso, os cineastas que conseguem filmar são sempre os mesmos, um grupo de bem nascidos. Vivemos nas trevas da hipocrisia! Eu acho que hoje as novelas da televisão estão melhores que os filmes brasileiros!

Apesar de estar sem filmar longas desde Navalha na Carne, de 1997, Neville afirmou fazer essa crítica não por ressentimento, mas por amor ao cinema brasileiro. Lembrando que conheceu dois extremos em sua carreira - dirigiu alguns dos filmes brasileiros mais assistidos de todos os tempos, mas fez também alguns filmes que nunca foram vistos, proibidos pela Censura - Neville acredita que vivemos um momento maravilhoso.

_ Pela primeira vez em 10 mil anos, hoje qualquer pessoa pode chegar em casa e fazer seu próprio filme, sobre sua famíla, seus desejos, seus sonhos, seus traumas. Imaginem se o Glauber Rocha tivesse uma câmera digital nas mãos! Era tudo que ele precisava. O digital vai provocar uma revolução na produção e na exibição. As telas se multiplicam nos celulares e nos computadores. Essa revolução vai resgatar a paixão pelo cinema brasileiro e acabar com esses diretores que acham que só eles podem e sabem fazer filmes, e que o cinema brasileiro é deles.

Neville está preparando uma mostra com os 80 curtas e micro-metragens que fez nos últimos cinco anos. A mostra vai se chamar “Neville sem Lei”, porque o cineasta não usou nenhuma lei de incentivo. Ele acha que o modelo atual de fomento deve ser aprimorado.

_ Já temos uma estrutura de produção montada e funcionando, mal ou bem são feitos 80 filmes por ano. O problema a ser atacado agora é a distribuição e a exibição. O BNDES devia financiar a construção de cinemas em municípios que não têm nenhuma sala. E tem que haver mais compromisso. Hoje, tem diretor que pensa: “O dinheiro é do contribuinte mesmo, então estou me lixando se o filme só vai ficar uma semana em cartaz”. Claro, ele já ganhou o dele! O que não pode é alguém assim fazer um filme de 3 milhões que não dá nenhum retorno e no ano seguinte voltar e pedir mais 5 milhões para fazer outro!

Filmografia de Nevile D’Almeida como diretor:

1997 - Navalha na Carne
1991 - Matou a Família e foi ao Cinema
1982 - Rio Babilônia
1980 - Música Para Sempre
1980 - Os Sete Gatinhos
1978 - A Dama do Lotação
1973 - Surucucu Catiripapo
1972 - Gatos da Noite
1971 - Mangue Bangue
1971 - Piranhas do Asfalto
1970 - Jardim de Guerra

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