domingo, 24 de julho de 2011

Ontem na praça



Tenho muita preguiça des escrever sobre política. Bom, tenho muita preguiça de escrever na boa parte das vezes, vcs já devem ter percebido isso, mas quando a questão é política, uau, aí eu morro de preguiça. Coisa de má formação, falta de crença, de esperança, uma conformação hereditária desde o "descobrimento", essas coisas.
Mas hoje vim falar sobre um ato político cometido por alguns, nos quais com orgulho me incluo, sobre a censura a um filme sérvio que seria exibido no festival de filmes fantásticos (de sobrenatural, de surreal, de irreal, de fictício). Sim, um filme de nicho.

Os poucos que fomos, estavam lá para reclamar a proibição de um filme que mais poucos ainda veriam. Hã, como assim? É que a maioria dos que estavam lá não queriam ver o filme! Mas aí vc diz, mas então para que estavam lá, que filme é esse e qual a sua importância para ter manifestações pró? E aí pessoas, por favor, notem bem: não estávamos lá para defender o filme em si, mas defender a liberdade dele ser exibido.

Liberdade é uma palavra perigosa. Antes de mais nada, é linda. Por exemplo, experimente falar liberdade como quando vc estava aprendendo a separar sílabas: li-ber-da-de. Percebeu que seu rosto vai se abrindo pela força da sua pronúncia? vc meio que sorri ao pronunciá-la, não é bonito isso?

Perigosa porque às vezes não sabemos o que fazer com ela. Sabe aquele momento que vc não tem nada pra fazer, tipo no trabalho, em casa, sem filhos, sem marido, sem o que quer que seja e...não sabe o que fazer com o tempo livre? Nessas ocasiões vc pode desperdiçar seu tempo fazendo nada ou fazendo alguma merda. O que muitas vezes pode ser a mesma coisa, isso acontece muito.

E perigosa porque, por ser uma palavra com amplo significado, pode ser mal interpretada. Parece que foi isso que aconteceu com a justiça carioca quando proibiu o "A Serbian Film".

Segundo quem viu, que não é o meu caso, o filme é, no melhor dos termos, repugnante. Feito com a intenção proposital de chocar, o filme sérvio parece se utilizar de formas bizarras de se fazer sexo para cometer uma provocação ímpar aos que se dispõem a assistí-lo. Aí a Justiça carioca homologou que esse filme (que eles tb não viram, mas achando que quem o visse faria uma grande merda) deveria ser proibido e aí foram lá e prenderam a cópia em nome da família e dos bons costumes.

Bom, eu, este ser bobo que mal consegue ver as cenas de suspense comercial de "O sexto sentido"((!!!)), que vergonhosamente não consegue assistir até ao fim "Laranja mecânica", que desmaiou assistindo a "Cães de aluguel", "ma nem pensar" em ver um troço desses, deve ser horroroso.

Mas é um decisão minha, uma escolha minha. E aí vai todo o cerne da questão: a minha, a sua, a deles, a nossa liberdade de escolha.

Vamos imaginar ao contrário, alguém me obrigando a ver o filme. Repugnante a ideia? Pois da mesma forma repugno o contrário, a proibição, a censura à sua exibição.

Porque hoje é essa obra aqui, amanhã é a outra ali e depois de amanhã as muitas aqui ali e acolá. Pode parar! Parar já!

É o que eu e mais alguns idealistas, faço questão de nos chamar assim, fomos fazer ontem em frente ao Odeon, sábado às 22h, numa noite chuvosa. Foi isso que decidimos fazer com nosso tempo livre: fomos gritar contra a censura de um filme que não queríamos ver, porque acreditamos que ninguém deve proibir as nossas opções.
Minha família já me orientou sobre o bom costume da liberdade, sobre as decisões do que quero ver, ler, ouvir, assistir.

Não importa quantos fomos/somos, mas nos importa muito ter ido lá. Foi um ato político.
Um digno ato político!

Eu tenho uma frase que se pergunta: "para aonde minha liberdade me leva?".
Ontem me levou ao Odeon.

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