terça-feira, 29 de novembro de 2011

O cinema é Nicholas Ray

Mostra em homenagem aos 100 anos do aclamado e controverso cineasta americano apresenta 27 filmes, a maioria em película.

“O cinema é Nicholas Ray”, afirmou Jean-Luc Godard depois de assistir ao filme "Amargo Triunfo", do cineasta Raymond Nicholas Kienzle Jr., lançado em 1957.

Se estivesse vivo, Ray completaria 100 anos. Para homenageá-lo, o Centro Cultural Banco do Brasil está realizando desde o dia 15 de novembro, a Mostra O cinema é Nicholas Ray, que conta com a presença da viúva do diretor, Susan Ray, e exibição de uma versão inédita, na América do Sul, de “We Can´t go Home Again”, remontado e exibido apenas no Festival de Veneza e em Nova Iorque. "É um filme experimental, difícil e visionário que tem uma importância particular hoje em dia. Não posso dizer com honestidade qual seria sua última visão do filme. Nem sei se ele sabia. Ele era como Penélope no seu tear: decidia de uma maneira durante o dia e à noite punha essa ideia de lado", conta Susan.

O objetivo da mostra é realizar uma retrospectiva da obra deste polêmico diretor. “Os filmes dele eram super populares no Brasil e as pessoas precisavam se posicionar, gostando ou não. Queremos chamar atenção para os filmes esquecidos e desconhecidos. Muita gente vai se surpreender”, explicam os curadores Thiago Brito e Eduardo Cantarino, formandos do curso de cinema da UFF.

Numa época em que surgiam artistas que se tornariam ídolos de uma geração como Marlon Brando e Elvis Presley, Nicholas Ray revoluciona o cinema norte-americano: na figura do protagonista, dá vida a personagens rebeldes, postos à margem pela sociedade. Um dos marcos foi “Juventude Transviada”, estrelado por James Dean. Outro destaque foi o filme "Amarga Esperança", que para o influente cineasta francês François Truffaut, teria sido a melhor obra de Ray, produzida por John Houseman.

O evento está dividido em dois blocos, de forma cronológica: na primeira metade, serão exibidas as produções de 1948 a 1956. Na segunda, as obras de 1956 a 1979. A maior parte dos filmes será exibida em película, com exceção de “Fora das Grades". O famoso "O Rei dos Reis", obra raríssima, terá uma exibição em DVD e uma em película, pois o filme virá da Finlândia e foi autorizada apenas uma exibição pública. Já “Don’t Expect Too Much” e “We Can´t go Home Again” estão em Beta.

Além da exibição de filmes, a mostra, no Rio de Janeiro, contempla três atividades gerais: masterclass, onde Hernani Heffner fará uma análise histórica e estética do trabalho de Nicholas Ray; debates com Ruy Gardnier e Luis Alberto Rocha Melo, cuja reflexão será sobre o Cinema Moderno e Clássico, as perspectivas de Ray no Brasil à época dos filmes e atualmente; e um seminário com Susan Ray, vinda direto de Nova Iorque. A viúva do diretor apresentará o universo estético de Nicholas Ray, centrada principalmente em "We can’t go home again". As três atividades têm duração prevista de duas horas cada uma.

Arquiteto, ator, pintor ou um diretor à frente de seu tempo? Nicholas Ray era plural. O catálogo da mostra será o primeiro livro sobre ele no país. O ineditismo é o diferencial do conteúdo: textos estrangeiros; artigos de escritores e teóricos brasileiros, como Alex Viany; entrevista com Nicholas Ray feita pela também cineasta Kathryn Bigelow, vencedora do Oscar com “Guerra ao Terror”; além de artigos, poesias e aquarelas do próprio Ray. Um material sobre sua vida, arte, percepção estética e reflexões filosóficas.

A mostra “O Cinema é Nicholas Ray” tem apoio institucional da Cinemateca do MAM-RJ, da Universidade Federal Fluminense, a partir da figura do doutor Fabián Nuñez, da Nicholas Ray Foundation, e do Consulado Geral dos Estados Unidos da América.

BREVE BIOGRAFIA

Nascido Raymond Nicholas Kienzle Jr., em 07 de agosto de 1911, em Galesville, no Estado de Wisconsin, o cineasta Nicholas Ray era descendente de alemães e noruegueses. Sua vida escolar foi conturbada, sendo expulso de vários colégios. Apesar disto, em 1930, ingressou na Universidade de Chicago. Estudou arquitetura com o renomado Frank Lloyd Wright. Em 1932, chegou à Nova Iorque e foi atraído pelo teatro. Trabalhou como ator junto com Elia Kazan e John Houseman.

Nesta época, Ray mergulhou na pesquisa da música folk americana. Durante a Segunda Guerra, foi contratado por John Houseman para tocar um programa de rádio, o "Vozes da América". A experiência radiofônica refletiu em seu trabalho cinematográfico. Possuía cuidado extremo com a trilha sonora de seus filmes, que tiveram a participação de diversos músicos de jazz e blues.

Seu primeiro trabalho como diretor, “Amarga Esperança”, data de 1948. No mesmo ano, lança “A vida íntima de uma mulher”. No ano seguinte, dirige dois filmes da produtora Santana Films, “O Crime não compensa” e “No silêncio da noite” a convite do ator Humphrey Bogart.

Em 1951, Ray escala Robert Ryan para viver um policial em “Cinzas que Queimam”. Em 1954, estreia “Johnny Guitar” e, em 1955, “Fora das Grades”. No mesmo ano, é exibido um dos mais conhecidos projetos de sua carreira: “Juventude Transviada”. O filme fez enorme sucesso, não só pelo roteiro como pela morte de James Dean, ocorrida três semanas depois da estreia.

Logo em seguida, Ray lançou “Sangue Ardente”. Depois, veio “Delírio de Loucura”, um fracasso de bilheteria, em parceria com o ator James Mason. Em 1957, “Amargo Triunfo”. Entre 1958 e 1960 dirigiu três longas: “A Bela do Basfond, “Jornada Tétrica” e “Sangue sobre neve”. Na década de 60, o produtor Samuel Bronston propôs a direção de “O Rei dos Reis” e “55 Dias em Pequim”. Durante as filmagens deste último, Ray sofreu um ataque cardíaco que o afastou temporariamente do trabalho.

No final dos anos 60, cria com sua esposa Susan o documentário “We Can't Go Home Again”. Durante a montagem da obra, Ray perde uma das vistas. Em 1977, fez uma participação em “O Amigo Americano”, adaptação do cineasta alemão Wim Wenders do romance de Patricia Highsmith. Dois anos depois, Ray e Wenders retomam a parceria e dirigem “O Filme de Nick”.

A vida pessoal deste diretor multifacetado estava longe de ser perfeita como suas criações artísticas. Regada a mulheres, jogatinas e o vício do álcool, Nicholas Ray casou quatro vezes: Jean Evans foi sua primeira esposa, de 1930 a 1940. Divorciado, casou com Gloria Grahame em 1948 e desfez o matrimônio em 1952. A terceira esposa foi Betty Utey, dançarina e coreógrafa. A quarta e última foi Susan Ray, 40 anos mais nova, com quem casou em 1969. Ray teve quatro filhos: Anthony, Timothy, Nica e Julie.
Com dificuldades financeiras e a saúde debilitada, Ray abandona a direção e sua vida em Hollywood, para dedicar-se ao ensino universitário, ministrando aulas de Cinema e Direção até o fim da vida. Nicholas Ray morreu em 16 de junho de 1979, em Nova Iorque, de câncer no pulmão.

Até dia 4 de dezembro.
SERVIÇO:
O cinema é Nicholas Ray
Site oficial: www.nicholasray.com.br
Centro Cultural Banco do Brasil - Cinema I (Lotação: 102 lugares)
CCBB Rio de Janeiro – Rua 1º de Março, 66 – Centro
Valor do CINEPASSE - R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia-entrada). Credencial que dá direito a ver todas as sessões da mostra (mediante retirada de senha 30 minutos antes de cada sessão e sujeito à lotação).

PROGRAMAÇÃO: www.nicholasray.com.br

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